"In the arms of the angel. Fly away from here" (Angel, Sarah McLachlan)
Moro em um ambiente fechado, sem porta, sem janelas, sem saída. Em meio a escuridão e a luz diária. São poucos os sons que eu detenho, com exceção de um que segue o mesmo ritmo, que dificilmente acelera ou diminui o compasso, que nesses últimos dias parece está cansado de bater, e eu temo pela possibilidade de não ouvi-lo mais, pois tenho medo do escuro e essa luz forte também dói muito, e eu tento me manter calma, me manter viva através desse som que escuto, as vezes, em pleno devaneio, pois desconheço a realidade, chego a pensar que é ele que me dar vida, que ele é o motor de uma talvez máquina. Quando durmo ele mantem a melodia, quando acordo o escuto novamente, também acho que dormindo eu escuto, que esse som é que me embala todas as noites em insônias e sonos de descanso. E se ele parar de bater o que eu que faço? Deus, o que será de mim? Como posso ajudá-lo para que ele não me abandone? Eu poderia bater com ele, por ele, para ele e por mim. No entanto, algo muito íntimo diz que eu não posso bater, porque é ele que bate por mim. Oh!...e como eu necessito dele, como ele é meu e me dar vida, meu Deus! Agora estou o ouvindo, ele continua batendo no mesmo compasso, ouço a melodia, mas, como sofro em pensar que um dia ele parará, e sofro por puro egoísmo talvez, pois o fim da última nota embalada por ele, representará o último fio de oxigênio em meus pulmões, e não direi Adeus, não haverá despedidas, terá somente a falta de um som único no mundo, talvez outros nem sintam a ausência dessa melodia, afinal são mais de 80 milhões de sons como esse, e somente um parará, sumirá. Ouço ainda ele bater...
"Oh and weightless and maybe. I'll find some peace tonight" (Angel, Sarah McLachlan)